quinta-feira, novembro 26, 2009

O Inconsciente



Sobretudo na psicanálise que se associa propriamente a Freud, termo empregado para se referir a processos psíquicos eficazes, porém, despercebidos. A suposição desse tipo de processo define a psicologia em sua profundidade. Os antecedentes da suposição dos acontecimentos e energias psíquicas inconscientes, ou mentais, passam pela medicina arcaica sobre a teoria da reminiscência (Anamnesis) de Platão, as práticas psicoterapêuticas da filosofia antiga, as idéias acerca da obsessão na baixa Idade Média e nos primórdios da Modernidade, a doutrina das percepções invisíveis na teoria das mônadas e na teoria do conhecimento de Leibniz, até a Psiquiatria dinâmica da segunda metade do sec. XVIII (Gassner, Mesmer). Carus introduziu em 1846 o conceito de inconsciente na Filosofia. Para ele - ligando os conceitos românticos, especialmente na filosofia natural e Medicina -, a vida mental humana é essencialmente determinada por um inconsciente ativo e um inativo. Hartmann - ligando Schelling e Schopenhauer - reúne igualmente um conceito de inconsciente cosmológico-filosófico-natural (inconsciente absoluto) com o conceito de um inconsciente psíquico (inconsciente relativo). Ele considerou o processo cósmico como uma evolução da consciência do inconsciente pensado metafisicamente; o inconsciente psíquico age na consciência segundo leis naturais. No princípio filosófico proposto por Lipps, o 'inconsciente' é o dado psíquico genuinamente real. Lipps distinguiu o inconsciente ativo do inativo, este último sem qualquer centralização do ego. Ele introduz a dinâmica dos processos inconscientes e distingue as excitações mentais inconscientes - sua natureza inteiramente desconhecida -, das representações psíquicas inerentes ao consciente. Seu discípulo Geiger mostrou, a partir de uma perspectiva fenomenológica, que o desejo, enquanto fenômeno global em si já está indicado na realidade imanente da instância inconsciente. Disposições da memória e outras construções psíquicas, segundo Geiger, já estão sem dúvida centralizadas no ego, embora a princípio inativas.
A teoria freudiana do inconsciente reúne um interesse psicológico-prático e um epistemológico-metapsicológico. A memória, as recordações, as lacunas na vida do consciente, os atos falhos, as piadas, os sonhos e as experiências com hipnose deram ocasião à suposição de uma dimensão inconsciente e pré-consciente da vida psíquica. Na medida em que se reduz geneticamente às repressões da tenra infância e à memória infantil dos conteúdos da consciência de natureza eminentemente sexual, este inconsciente é responsável pelo surgimento das doenças neuróticas. No processo psicanalítico (anamnese, resistência, transferência, etc.), através do emprego de determinadas técnicas e através do aproveitamento de acontecimentos que sempre se repetem, tenta-se obter acesso a representações submetidas ao deslocamento e à condensação. Tenta-se também recordar tais representações com a energia psíquica colocada, a fim de remover, desse modo, o sintoma neurótico. Com sua metapsicologia, Freud reúne, além do objetivo terapêutico, o interesse de estabelecer a psicanálise como ciência. Ele distinguiu topicamente as instâncias psíquicas do inconsciente, do pré-consciente e do consciente; então, ele distinguiu as do id, do ego consciente e do superego que congrega as representações sociais. Ela recebe em sua concorrência dinâmica uma sobre a outra e faz o balanço energético a respeito daqueles processos psíquicos que se encontram sob o domínio do princípio do prazer e do desprazer (posteriormente também a pulsão da morte). As suposições metapsicológicas constituir-se-ão como hipóteses científicas que têm de se sujeitar à revisão crítica. Freud defendeu continuamente a tese de que a psicologia é uma ciência natural e que, conseqüentemente, a psiqué é regulada por um inconsciente eficaz somático e regular, acerca do qual é vedado todo conhecimento. - Freud empregou sua teoria do inconsciente também em sua teoria cultural, provavelmente influenciado pela doutrina de Jung sobre o inconsciente coletivo hereditário (arquétipo).

In Mittelstraß, J. (org.)(1996): Enzyklopädie Philosophie und Wissenschaftstheorie, Stuttgart: Verlag J. B. Metzler, vol. 4, pgs. 386-387 (tradução de Marco Antonio Franciotti).

quinta-feira, novembro 19, 2009

19 de novembro - Dia Mundial da Filosofia



Em 2002 a Unesco, numa bela manifestação de reconhecimento, instituiu o “Dia Mundial da Filosofia”. Foi decretado, então, que na terceira quinta-feira do mês de novembro, em cada ano, comemorar-se-ia esse dia. Para nós, aqui no Brasil, nesse ano de 2009 o Dia Mundial da Filosofia é lembrado às vésperas do Dia da Consciência Negra. Aí estão, creio, dois grandes temas para se pensar e, sobretudo, agir. Por dever de ofício, reporto-me, nestas linhas, apenas ao Dia Mundial da Filosofia.
A sociedade moderna, salvo alguns redutos muito específicos – as academias – marginalizou a Filosofia e o filosofar. As situações do cotidiano, da vida, os problemas, a educação, a economia, a política... não têm recorrido à Filosofia para seu diagnóstico. O que se percebe, pelo contrário, é uma incessante luta para desqualificá-la. A sociedade pragmática, consumista e tecnocrata criou a escola tecnicista e autoritária que baniu a Filosofia dos currículos, expurgando-a das escolas. A ordem, hoje, é produzir uma massa passiva, homens sem consciência, mão de obra dócil à implantação e solidificação de um modo de produção mais preocupado com o capital do que com o próprio ser humano. Assim, o interesse em promover o gosto pela filosofia é praticamente nulo. Para reverter este quadro é necessário mais do que simplesmente rever os juízos sobre os quais a consciência é postulada, é necessário rever as relações de poder e, mais do que isso, bem preparar os acadêmicos dos cursos universitários. No caso específico da Filosofia, acredito que ela tem uma contribuição significativa neste processo, pois faz-se presente em praticamente todos os cursos de licenciatura das universidades.
Por outro lado, deve-se ter presente que a Filosofia é um conjunto de conhecimentos que tem por função primeira repensar, discutir e analisar a arte, a política, a religião, as ciências... Ela deve compreender no conceito seu tempo e a sociedade em que vive. A filosofia se constitui no movimento que se recusa a aceitar a realidade imediata para transformá-la numa realidade pensada, compreendida no conceito. Contudo, definir a tarefa da Filosofia simplesmente como “pensar o seu tempo” pode induzir ao equívoco de pôr a etiqueta famosa da filosofia sobre qualquer reflexão acerca de objetos e fenômenos da época. Não podemos, como bem alertou o jovem Marx em 1842, transformar a filosofia em “reportagem jornalística”. Mas para que isso não ocorra devemos oferecer as condições para que alunos e professores investiguem de fato, obedecendo o método próprio da Filosofia. E para isso, é mister incentivá-los à pesquisa e ao ensino, conforme suas peculiaridades.
O que importa, entretanto, é que independente do modo de se compreender a Filosofia, a cada instante somos solicitados e desafiados por novos problemas e situações. A Filosofia visa a descobrir, nestes problemas e situações, uma finalidade: a realização humana pessoal e social no tempo. Esta deve ser a busca concreta do filósofo. Ao mesmo tempo, cabe-lhe a tarefa da denúncia dos entraves ideológicos, políticos e culturais que desviam as pessoas do movimento da justiça, da liberdade e da sociabilidade humanas. O modo de fazer Filosofia nunca pode se dar por completo, nunca pode dogmatizar-se, isso porque ele é histórico e deve acompanhar o movimento e a emergência de novas situações culturais e históricas. Esta forma de filosofar não é trabalho para um mestre solitário, mas exige a participação de muitos estudiosos, atentos ao caminhar das ciências e da experiência sociocultural da comunidade. É por isso que a pesquisa e a biblioteca se constituem em um momento privilegiado do filosofar.
Que esse 19 de novembro, Dia Internacional da Filosofia, possa ser entendido além de um dia de júbilo e festas, como um dia em que a humanidade de fato se pergunte sobre o “ser humano” da própria humanidade.


Renato Nunes/Professor, coord. Curso de Filosofia - Unisc

quarta-feira, novembro 18, 2009

TEIMOSIA

UM CASO DE TEIMOSIA
De Romano Dazzi

A velha senhora chegou de surpresa e:
-Vamos! – ordenou. – Estou com pressa!
José levantou lentamente a cabeça, olhou para um lado, olhou para o outro, largou o sapato que estava reformando e:
- É comigo? - perguntou com falsa inocência.
- Sim, meu lindo, é com você mesmo! Vamos!
- Não senhora – respondeu calmamente o José – Não vou, não.
- Como, não? Que novidade é essa? Estou mandando; vamos!
- Já disse que não vou e não vou. Pronto. Não vou a lugar nenhum - repetiu o José, agora com ar desafiador.
- Como se permite recusar? Você sabe quem eu sou?
- Sei, sim senhora.
- Então vamos ...Vamos embora!
Mas o José continuava firme, sacudindo a cabeça, recusando-se terminantemente a negociar:
- Quantas vezes tenho que repetir que não vou? Você é surda? Você não manda em mim! Volte outra hora!, Volte quando o trigo estiver maduro! E não me aborreça! – protestou decidido..
A velha senhora ficou confusa.
Nunca tinha sido maltratada assim.
Todos tinham por ela pelo menos um grande respeito, mesmo que não se tratasse, propriamente, de consideração; muitos a tinham chamado, em um momento qualquer da vida, pedindo-lhe que viesse resolver algum problema grave. Mas ela não atendia assim, facilmente. Só vinha quando queria.
Pensando bem, ela não conseguia lembrar de ninguém que não tivesse recorrido a ela, mais cedo ou mais tarde.
Mas este José, arrogante, orgulhoso, senhor sabe tudo, era o cúmulo da falta de respeito!
Ela reconhecia não ser uma figura simpática, agradável; a idade, os modos, a forma de aparecer, quase sempre de surpresa, com uma impressionante falta de “timing”, eram mais que criticáveis: eram chocantes.
Mas enfim, no mundo não existem somente pessoas jovens, bonitas e simpáticas. E todos acabam encontrando o seu lugar.
A velha senhora sabia, no fundo, que o José tinha razão; só não queria dar o braço a torcer. Teimosia, por teimosia.
Na sua função, às vezes era chamada a trabalhar duramente, sem descanso, em lugares os mais diversos e disparatados. Frequentemente tinha que correr de um lado para outro sem poder descansar um instante.
Assim, nas raras ocasiões em que o serviço arrefecia, tentava pôr em dia suas tarefas, apressando um pouco o tempo.
É por isso, que tinha chegado ao encontro com o José antes da hora. Mas era só uma questão de poucos anos, nada que fizesse uma grande diferença, diante da eternidade.
Porém, esse era um homem teimoso – e mal educado. Neste momento, ela o odiava. Ah, se pudesse..Mordeu o lábio, arrependida do mau pensamento.
Passaram-se alguns minutos.
Tanto ela quanto o José estavam reconsiderando e procurando colocar panos quentes na situação.
- Velho maluco! – comentou a Senhora, com uma expressão vaga, a esconder uma leve nuance de simpatia – então, você quer ganhar todas, não?
José também desfez a carranca, baixando a guarda e colocando de lado os sapatos consertados.
- Esta tenho que ganhar – comentou aliviado – e você não perde muita coisa, esperando um pouco para me levar...
- Sabe José, no fundo eu gosto de lutadores, gosto de quem resiste e não se dobra e – mesmo sabendo que no fim perderá - me olha firme nos olhos e me desafia. Este apego à vida é uma das melhores qualidades do Homem.
Mas chega de papo; já estou muito atrasada. Acerte o seu relógio, José!
Daqui a trinta anos, dois meses e vinte e um dias, volto para te levar. Adeus!
- Bom, resmungou o José – sou um dos poucos que têm o azar de saber o dia certo em que vão morrer! Até lá, não me preocupo.
Retomou nas mãos o par de sapatos, observou-o com atenção e carinho e comentou: Bom serviço, José! Eu sei mesmo fazer um bom trabalho .....
Passaram-se exatamente 11 039 dias; José já estava bem maduro, cansado por uma longa vida, por muitas lutas, por muitas solas consertadas; sabia que não duraria muito e aguardava o momento com certa impaciência.
Mas era um teimoso incorrigível.
Durante todo o tempo que lhe sobrara, pensava numa forma de enganar a velha, mesmo que fosse para ganhar só alguns instantes.
Assim, quando amanheceu aquele que deveria ser o seu último dia, saiu de casa cedinho, com uma máscara imitando uma caveira e vestindo uma roupa usada e rasgada como a que tinha visto a velha senhora usar.
Era tempo de carnaval e ninguém estranharia o disfarce; às costas, levava uma foice, igualzinha às das cartas de tarô.
Chegando na cidade próxima, porém, viu-se, de repente, cara a cara com outro José; igualzinho, roupa surrada, sapatos impecáveis.
E este José, mostrando-se surpreso e apavorado, começou a gritar:
“É a Morte! Olha a Morte aí! É a Morte! É a Morte! Mata! Mata! Mata ela!”...
Juntou muita gente, cada um com seu medo e sua coragem;
Quando o homem está só, o medo domina-o facilmente. Mas quando está com outros, sua coragem multiplica-se. Chama-se “covardia”
Assim, todos pularam sobre o pobre José, com seu inútil disfarce, sem dar-lhe nenhuma chance. Em cinco minutos, acabaram com ele.
Então a morte, retomando suas feições e rindo como só ela sabe fazer, pegou sua alma e o levou.

Moral: Pode-se enganar todos, a vida toda; mas há um momento em que não podemos enganar ninguém, e muito menos, nós mesmos. Temos que reconhecer este momento e aceitá-lo, com coragem.
É a única maneira bonita de morrer.

domingo, novembro 15, 2009

Zumbi dos Palmares o heroi Brasileiro


Zumbi dos Palmares nasceu no estado de Alagoas no ano de 1655. Foi um dos principais representantes da resistência negra à escravidão na época do Brasil Colonial. Foi líder do Quilombo dos Palmares, comunidade livre formada por escravos fugitivos das fazendas. O Quilombo dos Palmares estava localizado na região da Serra da Barriga, que, atualmente, faz parte do município de União dos Palmares (Alagoas). Na época em que Zumbi era líder, o Quilombo dos Palmares alcançou uma população de aproximadamente trinta mil habitantes. Nos quilombos, os negros viviam livres, de acordo com sua cultura, produzindo tudo o que precisavam para viver.
Embora tenha nascido livre, foi capturado quando tinha por volta de sete anos de idade. Entregue a um padre católico, recebeu o batismo e ganhou o nome de Francisco. Aprendeu a língua portuguesa e a religião católica, chegando a ajudar o padre na celebração da missa. Porém, aos 15 anos de idade, voltou para viver no quilombo.
No ano de 1675, o quilombo é atacado por soldados portugueses. Zumbi ajuda na defesa e destaca-se como um grande guerreiro. Após um batalha sangrenta, os soldados portugueses são obrigados a retirar-se para a cidade de Recife. Três anos após, o governador da província de Pernambuco aproxima-se do líder Ganga Zumba para tentar um acordo, Zumbi coloca-se contra o acordo, pois não admitia a liberdade dos quilombolas, enquanto os negros das fazendas continuariam aprisionados.
Em 1680, com 25 anos de idade, Zumbi torna-se líder do quilombo dos Palmares, comandando a resistência contra as topas do governo. Durante seu “governo” a comunidade cresce e se fortalece, obtendo várias vitórias contra os soldados portugueses. O líder Zumbi mostra grande habilidade no planejamento e organização do quilombo, além de coragem e conhecimentos militares.
O bandeirante Domingos Jorge Velho organiza, no ano de 1694, um grande ataque ao Quilombo dos Palmares. Após uma intensa batalha, Macaco, a sede do quilombo, é totalmente destruída. Ferido, Zumbi consegue fugir, porém é traído por um antigo companheiro e entregue as tropas do bandeirante. Aos 40 anos de idade, foi degolado em 20 de novembro de 1695.
Zumbi é considerado um dos grandes líderes de nossa história. Símbolo da resistência e luta contra a escravidão, lutou pela liberdade de culto, religião e pratica da cultura africana no Brasil Colonial. O dia de sua morte, 20 de novembro, é lembrado e comemorado em todo o território nacional como o Dia da Consciência Negra.

sábado, novembro 14, 2009

ACETILCRISTOVAMCOLINA/ 2000 PARA MEMORIA



Internacionalização da Amazônia

Durante debate ocorrido no mês de Novembro/2000, em uma Universidade, nos Estados Unidos, o ex-governador do Distrito Federal, Cristovam Buarque (PT), hoje (PTB ), foi questionado sobre o que pensava da internacionalização da Amazônia. O jovem introduziu sua pergunta dizendo que esperava a resposta de um humanista e não de um brasileiro. Segundo Cristovam, foi a primeira vez que um debatedor determinou a ótica humanista como o ponto de partida para a sua resposta:
"De fato, como brasileiro eu simplesmente falaria contra a internacionalização da Amazônia. Por mais que nossos governos não tenham o devido cuidado com esse patrimônio, ele é nosso. Como humanista, sentindo e risco da degradação ambiental que sofre a Amazônia, posso imaginar a sua internacionalização, como também de tudo o mais que tem importância para a Humanidade. Se a Amazônia, sob uma ótica humanista, deve ser internacionalizada, internacionalizemos também as reservas de petróleo do mundo inteiro. O petróleo é tão importante para o bem-estar da humanidade quanto a Amazônia para o nosso futuro. Apesar disso, os donos das reservas sentem-se no direito de aumentar ou diminuir a extração de petróleo e subir ou não o seu preço. Da mesma forma, o capital financeiro dos países ricos deveria ser internacionalizado
Se a Amazônia é uma reserva para todos os seres humanos, ela não pode ser queimada pela vontade de um dono, ou de um país. Queimar a Amazônia é tão grave quanto o desemprego provocado pelas decisões arbitrárias dos especuladores globais. Não podemos deixar que as reservas financeiras sirvam para queimar países inteiros na volúpia da especulação. Antes mesmo da Amazônia, eu gostaria de ver a internacionalização de todos os grandes museus do mundo. O Louvre não deve pertencer apenas à França. Cada museu do mundo é guardião das mais belas peças produzidas pelo gênio humano. Não se pode deixar esse patrimônio cultural, como o patrimônio natural amazônico, seja manipulado e destruído pelo gosto de um proprietário ou de um país.
Não faz muito, um milionário japonês, decidiu enterrar com ele um quadro de um grande mestre. Antes disso, aquele quadro deveria ter sido internacionalizado. Durante este encontro, as Nações Unidas estão realizando o Fórum do Milênio, mas alguns presidentes de países tiveram dificuldades em comparecer por constrangimentos na fronteira dos EUA. Por isso, eu acho que Nova York, como sede das Nações Unidas, deve ser internacionalizada. Pelo menos Manhattan deveria pertencer a toda a Humanidade. Assim como Paris, Veneza, Roma, Londres, Rio de Janeiro, Brasília, Recife, cada cidade, com sua beleza específica, sua história do mundo, deveriam pertencer ao mundo inteiro. Se os EUA querem internacionalizar a Amazônia, pelo risco de deixá-la nas mãos de brasileiros, internacionalizemos todos os arsenais nucleares dos EUA. Até porque eles já demonstraram que são capazes de usar essas armas, provocando uma destruição milhares de vezes maior do que as lamentáveis queimadas feitas nas florestas do Brasil. Nos seus debates, os atuais candidatos à presidência dos EUA têm defendido a idéia de internacionalizar as reservas florestais do mundo em troca da dívida.
Comecemos usando essa dívida para garantir que cada criança do mundo tenha possibilidade de ir à escola. Internacionalizemos as crianças tratando-as, todas elas, não importando o país onde nasceram, como patrimônio que merece cuidados do mundo inteiro. Ainda mais do que merece a Amazônia. Quando os dirigentes tratarem as crianças pobres do mundo como um patrimônio da Humanidade, eles não deixarão que elas trabalhem quando deveriam estudar; que morram quando deveriam viver. Como humanista, aceito defender a internacionalização do mundo. Mas, enquanto o mundo me tratar como brasileiro, lutarei para que a Amazônia seja nossa. Só nossa."

(*) Cristóvam Buarque foi governador do Distrito Federal (PT) e reitor da Universidade de Brasília (UnB), nos anos 90. É palestrante e humanista respeitado mundialmente.

É UM PÁSSARO, UM HOMEM, UM AVIÃO? NÃO É O BARACK OBAMA


É UM PÁSSARO, UM HOMEM, UM AVIÃO? NÃO É O BARACK OBAMA
Posted by Blog da redação in reflexão

Nunca em toda a história da humanidade falou tanto na posse de um presidente como esse. Embora essa frase anterior seja marca registrada do presidente Lula, ela pode ser aplicada, com muita propriedade na posse do homem mais poderoso do mundo. O novo presidente dos Estados Unidos se tornou um Super-Homem, não no sentido nietzschiano, e sim no hollywoodiano e norte-americano.
Vimos, lemos e ouvimos sua trajetória política nos meios de comunicações de massa. Ele é a grande aposta para mudança mundial. Veja o que disse o presidente Francês Nicolas Sarkozy: “Nós estamos ansiosos que ele comece a trabalhar para que, com ele, nós possamos mudar o mundo”; e o primeiro ministro de Israel, Ehud Olmert, enfatizou: “Obama mobilizou uma grande quantidade de boa vontade e apoio em todos os setores da sociedade”. Promessa de mudança de mundo, aberto ao diálogo e promotor da paz universal (pax romana). Será que esses líderes acreditam nele (Obama), ou estão fazendo a política da boa vizinhança?
Tenho minhas ressalvas quanto a ele (Barack), ele não governará sozinho, e fez muita promessa, falou muito, tem um adágio popular que diz “Quem muito fala, pouco acerta.” Ele não decidirá tudo sozinho, terá um  senado opositor e decisivo, por exemplo. Para solucionar a crise econômica que assola o país ele precisará do apoio dos congressistas opositores. Não podemos nos esquecer da forte indústria bélica que gera cifras enormes para a economia do país.
Eles (industriais bélicos) não se alegrarão muito com o cessar fogo (em alguns países em guerra), pois deixarão de ganhar, e farão pressão popular contra o final da guerra do Iraque (para que ela não finde). Obama prometeu o fim dessa Guerra na campanha eleitoral. Não devemos esquecer que o EUA e os norte-americanos respiram o ar ideológico do projeto neoliberal, sistema econômico que reduz tudo a lei do mercado e do lucro.
No neoliberalismo vale pelo que produz. O detrimento dos enriquecimentos de poucos, culmina no empobrecimento de muitos. Nesse sistema, pouco importa as pessoas, se a natureza esta sendo agredida ou se a violência e as guerras estão aumentando. Como as indústrias enfrentarão mudanças nas políticas ambientais, medidas que os norte-americanos acham nocivas para o desenvolvimento econômico? Penso que Obama tem boa índole, proposta política, retórica e abertura ao diálogo, mas será impedido por forças maiores. Ele é apenas uma peça do quebra cabeça, e não o jogo inteiro, como alguns pensam.
Termino esse citando Hobbes “Homo homini lupus - o homem é o lobo do homem” ele mesmo fez a afirmação contudente “Bellum omnium contra omnes”, é a guerra de todos contra todos.
Será que o novo presidente seguirá essa lógica hobbineana? Ou não apregoará a paz entre os seres humanos e nações. Será que Obama conseguirá conduzir a bandeira da etica, cidadania, honestidade e fraternindade? Numa situação tão adversa?

blogprofessordefilo.blogspot.com

sexta-feira, novembro 13, 2009

Como a ciência evolui?

Como a ciência evolui?



1. O objetivo da ciência

Sugiro que o objetivo da ciência é encontrar explicações satisfatórias para aquilo que consideramos precisar de uma explicação. Por explicação (ou explicação causal) entendo um conjunto de enunciados em que uns descrevem o estado de coisas a ser explicado (o explicandum) enquanto que os outros, os enunciados explicativos, formam a “explicação” no sentido estrito da palavra (o explicans do explicandum).
A questão “Que tipo de explicação pode ser satisfatória?” conduz à seguinte resposta: uma explicação em termos de leis universais falsificáveis e testáveis e de condições iniciais. E uma explicação deste tipo será mais satisfatória quanto mais testáveis forem essas leis e quanto melhor tiverem sido testadas. (Isto também se aplica às condições iniciais.)
Desta maneira, a conjectura de que o objetivo da ciência é encontrar explicações satisfatórias conduz-nos à idéia de melhorar o grau com que as explicações são satisfatórias melhorando o seu grau de testabilidade; isto significa avançar para teorias com um conteúdo cada vez mais rico e com graus de universalidade e de precisão cada vez mais elevados. Isto está, sem dúvida, inteiramente de acordo com a prática efetiva das ciências teóricas.
Podemos chegar fundamentalmente ao mesmo resultado também de outra maneira. Se o objetivo da ciência é explicar, então é também seu objetivo explicar o que até aqui foi aceito como explicans; por exemplo, uma lei da natureza. Deste modo, o objetivo da ciência renova-se constantemente a si próprio. Podemos prosseguir para sempre, avançando para explicações com um nível de universalidade cada vez mais elevado.


2. Profundidade

Sugiro que as nossas leis ou as nossas teorias devem ser universais, isto é, devem fazer asserções sobre o mundo – sobre todas as regiões espaço-temporais do mundo. Sugiro, para além disso, que as nossas teorias fazem asserções sobre propriedades estruturais ou relacionais do mundo, e que as propriedades descritas numa teoria explicativa devem ser, em algum sentido, mais profundas do que aquelas a explicar. Acredito que esta expressão, “mais profundas”, resiste a qualquer tentativa de análise lógica exaustiva, mas ainda assim é um guia para as nossas intuições.
No entanto, parece haver uma espécie de condição suficiente para a profundidade, ou para graus de profundidade, que pode ser logicamente analisada. Vou tentar explicar isto com a ajuda de um exemplo da história da ciência.
É do conhecimento geral que a dinâmica de Newton realizou uma unificação da física terrestre de Galileu e da física celeste de Kepler. Diz-se frequentemente que a dinâmica de Newton pode ser induzida a partir das leis de Galileu e de Kepler, e chegou-se mesmo a dizer que pode ser estritamente deduzida a partir delas. Mas isto não é verdade; de um ponto de vista lógico, a teoria de Newton em rigor contradiz tanto a teoria de Galileu como a de Kepler (embora, obviamente, estas últimas teorias possam ser obtidas como aproximações logo que tenhamos à nossa disposição a teoria de Newton). Por esta razão, é impossível derivar a teoria de Newton a partir da de Galileu, da de Kepler ou de ambas, seja por dedução ou por indução, pois nem uma inferência dedutiva, nem uma inferência indutiva, pode avançar de premissas consistentes para uma conclusão que contradiz formalmente as premissas de que partimos.


É importante notar que das teorias de Galileu ou de Kepler não obtemos o menor indício sobre como estas teriam que ser ajustadas – que falsas premissas teriam que ser abandonadas ou que condições teriam que ser estipuladas – se tentássemos avançar a partir delas para outras teorias com uma validade mais geral, como a de Newton. Só depois de estarmos na posse da teoria de Newton podemos descobrir se, e em que sentido, as teorias anteriores podem ser suas aproximações. Podemos exprimir este fato resumidamente dizendo que, embora do ponto de vista da teoria de Newton as de Galileu e de Kepler sejam aproximações excelentes a certos resultados newtonianos específicos, não podemos dizer que a teoria de Newton seja, do ponto de vista das outras duas teorias, uma aproximação aos seus resultados. Tudo isto mostra que a lógica, seja ela dedutiva ou indutiva, nunca pode realizar o passo que vai destas teorias à dinâmica de Newton. Só a imaginação pode realizar esse passo. Logo que ele tenha sido realizado, podemos dizer que os resultados de Galileu e de Kepler corroboram a nova teoria.
Aqui, no entanto, não estou tão interessado na impossibilidade da indução como no problema da profundidade e, no que diz respeito a este problema, podemos de fato aprender algo a partir do nosso exemplo. A teoria de Newton unifica a de Galileu e a de Kepler mas, longe de ser uma mera conjunção dessas duas teorias, que desempenham o papel de explicanda em relação à de Newton, corrige-as ao mesmo tempo que as explica. A tarefa explicativa original era a dedução dos resultados anteriores, mas esta tarefa é abandonada, porque não se deduzem os resultados anteriores, deduzindo-se algo melhor no seu lugar: novos resultados que, sob as condições específicas dos velhos resultados, aproximam-se muito deles numericamente ao mesmo tempo em que os corrigem.
Sugiro que, sempre que nas ciências empíricas uma nova teoria com um nível de universalidade mais elevado explica com sucesso uma teoria anterior corrigindo-a, temos um indício seguro de que a nova teoria penetrou mais fundo do que as teorias anteriores.


Autor: Karl Popper
Tradução: Pedro Galvão
Original: Objective Knowledge

terça-feira, novembro 10, 2009

CAMINHOS DA TEORIA DO CONHECIMENTO


CAMINHOS DA TEORIA DO CONHECIMENTO

O entendimento através da história, sobre a compreensão das influências de várias teorias do conhecimento estabelece parâmetros de avaliação, critérios de verdade, objetivação, metodologia e relação sujeito e objeto para os vários modos de conhecimentos diante da crise da razão que se instaurou no século XX e que há de se prolongar neste presente século, através dos desafios da construção de uma ética normativa compatível com as evoluções das descobertas e do conhecimento no campo científico.
Começamos por conceituar o conhecimento: Conhecimento é a relação que se estabelece entre sujeito que conhece ou deseja conhecer e o objeto a ser conhecido ou que se dá a conhecer.
Na Grécia Antiga temos várias visões e métodos de conhecimento, Sócrates Estabelecendo seus métodos com a ironia e maiêutica. Platão com a Doxa que é a ciência baseada na Opinião. Aristóteles com a Episteme, a ciência baseada Observação ( Experiência ).
Teoria do Conhecimento na Antigüidade, podemos perceber que os Filósofos gregos deixaram algumas contribuições para a construção da noção de conhecimento: Estabeleceram a diferença entre conhecimento sensível e conhecimento intelectual. Estabeleceram diferença entre aparência e essência. Estabeleceram diferença entre opinião e saber. Estabeleceram regras da lógica pra se chegar à verdade
Na Teoria do Conhecimento na Idade Média, na Patrística temos a tendência da conciliação do pensamento cristão ao pensamento platônico, sendo seu grande expoente Santo Agostinho. Na Escolástica, temos a anexação da Filosofia aristotélica ao pensamento cristão, com o estreitamento da relação Fé e razão, sendo seu grande defensor São Tomás de Aquino. Com o Nominalismo Temos o final do domínio do Pensamento Medieval, com a separação da Filosofia da teologia através do esvaziamento dos conceitos. Sendo Duns Scotto e Guilherme de Oclkam, seu defesor trazendo sua navalha cortando tudo .
Na Teoria do Conhecimento na Idade Moderna surge a primeira Revolução Científica que trouxe várias mudanças para o pensamento, dentre as quais podemos destacar a mudança da visão teocentrista (Deus é o centro do conhecimento), para visão antropocentrista (o homem é o centro do conhecimento). O racionalismo de René Descartes, o Discurso do Método: A máxima do cartesianismo "Cogito ergo sun". O empirismo: John Lock a experiência. David Hume, a Crença. O criticismo kantiano: O conhecimento a priori: Universal e necessário. A herança iluminista: A razão.
Na Teoria do Conhecimento na Idade Contemporânea temos a Crise da Razão. O novo iluminismo de Habermas, razão crítica precisa fazer a crítica dos limites. Estabelecer princípios éticos. Vincular construção a raízes sociais.
A construção do conhecimento fundado sobre o uso crítico da razão, vinculado a princípios éticos e a raízes sociais é tarefa que precisa ser retomada a cada momento, sem jamais ter fim. O assunto é por demais amplo e muito bem discutido por vários filósofos. Nossa pretensão foi apensas de trazer uma reflexão através de um esboço sistemático da história do conhecimento. Deixamos para apreciação através de uma análise analítica e crítica os principais modos de conhecer o mundo e suas formas de abordagens para se chegar ao conhecimento verdadeiro.

Como Modos de Conhecer o Mundo, temos O Mito. A Filosofia. O Senso Comum. A Arte. A Ciência. E cada um possui um critério de verdade. A Fé. A Razão. A Cultura Ética e Moral. A Estética. A Experimentação. Com Objetivo de Dogmatismo, Doutrinamento e Proselitismo. Possuem a Razão Discursiva, busca estabelecer a Tradição Cultural, o Esteticismo a subjetividade do artista e do contemplador da arte. Objetividade de Comprovação de uma determinada tese de modo objetivo


A Metodologia que cada um utiliza é uma prova de uma só intenção: chegar ao conhecimento verdadeiro. A Experiência Pessoal. A Dialética. As crenças silenciosas, Ideologias. O gosto. A Observação. A Relação Sujeito-Obejto, acontece em vários campos: Relação Suprapessoal, onde a Revelação do Sagrado se manifesta (revela) sobrenaturalmente ao profano através do rito (Dramatização do mito, ou seja, da liturgia religiosa). Relação transpessoal onde a palavra diz as coisas. O mundo se manifesta pelos fenômenos e é dizível através do Logos. Relação interpessoal, onde a ideologia estabelecida pelas idéias dominantes e pelos poderes estabelecidos. Relação pessoal, onde a criatividade e a percepção da realidade do autor e a interpretação e sensibilidade do observador. Relação "impessoal", A isenção do cientista diante de sua pesquisa: O mito da neutralidade científica. O que nos deixa muito preocupados, por não sabermos o que realmente conhecemos, ou se conhecemos àquilo que estes meios nos permitem conhecer.

Marcilio Reginaldo

segunda-feira, novembro 09, 2009

CONCEITO DE EMANCIPAÇÃO HUMANA EM MARX



CONCEITO DE EMANCIPAÇÃO HUMANA EM MARX

O problema essencial da filosofia política de Marx em 1843, é o da relação entre a emancipação política do Estado promovida pela revolução burguesa e a emancipação da humana como tal. Na Questão judaica Marx define emancipação enquanto redução do mundo humano ao próprio homem, isto é, enquanto redução dos fundamentos da sociedade em geral às próprias relações humanas, implicando, em particular, no caso do Estado moderno, o traçado dos limites da ação política, opondo-se assim a qualquer forma de tirania, na qual o poder do déspota é limitado apenas por sua própria força, mas também às outras formas clássicas de delimitação que se baseavam em fundamentos transcendentes, religiosos ou não, na medida em que tais limites deviam permanecer no âmbito esboçado pela razão social imanente expressa no direito.
No caso específico da revolução burguesa a emancipação implica uma dupla redução do indivíduo. De um lado cada um é membro da sociedade civil burguesa onde as relações sociais se dão entre indivíduos independentes e egoístas em busca da realização dos seus interesses particulares ao contrário da época feudal na qual as relações davam-se entre indivíduos enquanto membros das suas respectivas classes, baseando-se em privilégios, e de outro lado cada um é, enquanto pessoa moral, cidadão do Estado. No primeiro caso a vida individual encontra-se submetida às estruturas sociais involuntárias, não refletidas, que dizem respeito à produção material, isto é, submetida às relações econômicas, que, como tais não são livremente instituídas, como o direito. Todo o problema consiste em saber quais são os limites do reino do direito ou da liberdade em confronto com as estruturas concretas da sociedade civil; em saber até onde o homem pode estender a autonomia jurídica conquistada pelo Estado. Trata-se de saber qual é o verdadeiro estatuto da separação entre religião e Estado, das liberdades burguesas, a saber, a liberdade de imprensa, extinção dos privilégios políticos das classes, sufrágio universal, direitos universais do homem etc., diante da emancipação da essência humana que supostamente a libertaria dos entraves históricos que impediam sua plena realização no antigo regime.
É o que Marx denomina crítica da emancipação política que lhe permite logo no início de A Questão judaica atribuir a Bruno Bauer o erro de não investigar a relação entre a emancipação política e a emancipação humana. A emancipação política, isto é, a emancipação do Estado burguês, não é o modo radical e isento de contradições da emancipação humana. Anulando a significação política das diferenças sociais, estendendo seus direitos a todos os cidadãos, o Estado burguês mostra-se incapaz de suprimir as premissas materiais da desigualdade: a propriedade privada e toda cultura humana dela derivada como o egoísmo, a concorrência, a pobreza etc. A igualdade política e a idéia de comunidade aí subtendida não se refletem na estrutura efetiva da sociedade fundamentada sobre a desigualdade entre proprietários e não proprietários. Nesse sentido o Estado político acabado, quer dizer, o Estado plenamente emancipado, é, por sua própria essência, a vida genérica do homem, porém oposta à vida real da sociedade civil burguesa na qual cada indivíduo atua como particular, considerando a outros homens como meio, degradando-se a si próprio como meio e convertendo-se em joguete de poderes estranhos.
Por esta via no Estado burguês perante o qual o indivíduo é considerado, de acordo com a verdadeira natureza da sua essência humana, um ser universal, como cidadão, esta essência se encontra apenas imaginária e abstratamente liberta dos empecilhos que impedem sua realização efetiva. A generalidade do Estado burguês, a generalidade do cidadão é apenas abstrata, irreal, imaginária. Ora, para a tradição do pensamento político moderno, notadamente no idealismo alemão ao qual Marx encontra-se intimamente vinculado, o principal problema consiste em determinar as condições de realização através do Estado ou nele próprio, da racionalidade total da vida humana. Em outros termos a vida política deve espelhar a comunidade originária constitutiva da idéia de humanidade enquanto reveladora da verdadeira natureza essencial do homem, natureza que não apenas era contrariada pela antiga sociedade feudal baseada em privilégios e castas, como também parece ainda não realizada pelas relações que os indivíduos estabelecem entre si, na sociedade civil, mediatizadas pelas determinações econômicas do capital: propriedade privada, trabalho assalariado, produção de mercadorias, concorrência, crises de mercado, pobreza, etc.. O objeto mais essencial dos sentidos humanos é o próprio homem. Unicamente no olhar do homem sobre o homem se acende a luz da consciência e do entendimento.
Convém, portanto explicitar a que conceito de essência humana que Marx se refere ao criticar a emancipação política do Estado burguês, explicitando, ao mesmo tempo os fundamentos ontológicos segundo os quais esta essência será concebida. A ontologia presente na elaboração marxiana da essência humana é a ontologia de Hegel, a saber, do ser universal, mas tal como Feuerbach a interpreta mediante o conceito de gênero ou espécie que passa doravante a assumir o posto de novo e verdadeiro universal concreto. De acordo com este ponto de vista o gênero humano consiste no conjunto dos predicados que definem, para cada indivíduo, as potencialidades essenciais que sua existência pode realizar parcialmente. O homem, como tal, nada mais é do que a idéia de um indivíduo cuja vida desenvolvesse em si a totalidade de tudo que a essência genérica contém a título de possibilidade. Não há dúvida que a emancipação política representa um grande progresso. Embora não seja a última etapa da emancipação humana em geral, ela se caracteriza como a derradeira etapa da emancipação humana dentro do contexto do mundo atual. É óbvio que nos referimos à emancipação real, à emancipação prática.
Evidentemente o homem não existe em parte nenhuma. Só os indivíduos têm existência, vida e realidade. Essa observação se aplica a toda relação entre gênero e indivíduo. Mas no que tange aos indivíduos humanos ninguém realiza em sua vida a totalidade das potencialidades do seu gênero, conhecendo todas as coisas que o homem pode conhecer ou fazendo tudo o que a humanidade considerada em seu conjunto pode fazer. Cada vida individual é limitada quando contraposta às outras existências e à totalidade das potencialidades inerentes ao gênero humano como tal. Cada indivíduo não realiza em sua existência senão uma parcela de tudo aquilo que a humanidade pode realizar. De acordo com Marx e com a filosofia de Feuerbach, onde Marx, a razão dessa limitação não reside, inicialmente, nas estruturas práticas da vida social, a saber, no conjunto das relações econômicas que os indivíduos estabelecem entre si enquanto produtores e consumidores, proprietários e trabalhadores, homens e mulheres. Não é por ser proletário, por exemplo, que a pobreza da situação econômica exclui do indivíduo a possibilidade de desenvolver a cultura, inteligência, sensibilidade estética etc. Essa limitação existe de fato, mas encobre a finitude essencial inerente ao caráter genérico do próprio ser da vida humana. A finitude da existência individual e a oposição do particular ao universal que a atravessa, são determinações metafísicas relativas à natureza genérica da essência humana.
Emancipação política é a atividade prática através da qual os indivíduos tentam superar os antagonismos da sociedade civil a fim de formarem uma comunidade orgânica de interesses harmoniosos fundada na razão. Por esta via cada indivíduo só participaria efetivamente da sua essência humana enquanto membro do Estado. Também só através do Estado seríamos livres, liberados do sistema das necessidades e dos interesses e igualados numa mesma obediência à lei. Essa última, na medida em que constrange os indivíduos identicamente, em que todos são iguais perante ela, já faz abstração de todas as diferenças, de classe, de profissão, de interesse particular, de riqueza, de raça etc., abolindo todo privilégio social ou individual. Assim fazendo a lei nos situa diante da própria essência comum e universal do homem interpelando os indivíduos enquanto seres de razão dotados de liberdade e de responsabilidade pelos seus atos, a partir da vontade universal encarnada pelo Estado, seu guardião. Diante do Estado, situados na mira do seu ponto de vista universal, sob sua luz, os indivíduos seriam o que são essencialmente: homens.
Emancipação humana é a recondução do mundo humano, das relações, ao próprio homem. A emancipação política é a redução do homem, de um lado, a membro da sociedade burguesa, a indivíduo egoísta independente e, de outro, a cidadão do Estado, a pessoa moral. Somente quando o homem individual real recupera em si o cidadão abstrato e se converte como homem individual, em ser genérico, em seu trabalho individual e em suas relações individuais; somente quando o homem tenha reconhecido e organizado suas forcas próprias como forças sociais e quando, portanto, já não separa de si a força social sob a forma de força política, somente então se processa a emancipação humana.
Marx encontra-se de acordo com a idéia de que a essência humana é universal. Porém, se para Hegel a realização dessa essência reside, não só na estrutura política do Estado como tal, mas na sua emancipação, em sua autonomia e precedência em relação à sociedade civil, para Marx ela reside na sociedade como tal. Não é na relação dos indivíduos com o Estado, mas na relação e na interdependência dos indivíduos entre si, na vida social cotidiana e efetiva, que deve ser encontrada a verdadeira realização da essência genérica do homem.
Marx diz que o indivíduo é o ser social. O significado desta identificação clarifica imediatamente ao afirmar que mesmo quando a manifestação da vida do indivíduo não aparece imediatamente sob a forma de uma manifestação coletiva, efetuada com os outros e ao mesmo tempo que eles, ela é ainda uma afirmação da vida social. Assim a manifestação social da vida individual não é necessária nem primeiramente uma existência coletiva. Ao contrário, a manifestação primeira da determinação social da vida individual reside na relação imanente desta vida à essência universal, relação sem a qual não haveria nenhuma intersubjetividade e, portanto, nenhuma vida coletiva possível. Trata-se de passagem necessária para uma sociedade sem propriedade privada e, portanto, sem classes, sem divisão do trabalho, sem alienação e sobre tudo, sem estado. Para Marx, o comunismo é “o retorno completo e consciente do homem a si mesmo, como homem social, isto é, como homem humano”.

Marcilio Reginaldo       



REFERÊNCIAS:
REALE, G. ANTIUSSERI, D. História da Filosofia, vol. 5. Do romantismo ao Empiriocriticismo. São Paulo: Paulus, 2005.
MARX, K. A Questão Judaica. São Paulo: Moraes, 1991.

domingo, novembro 08, 2009

Melancolia Filosófica

David Hume
Melancolia Filosófica  

Mas antes de me lançar nessas imensas profundezas da filosofia que se apresentam diante de mim, vejo-me inclinado a deter-me um instante em minha presente situação, e a avaliar essa viagem a que me propus fazer e que sem dúvida requer o máximo esforço e arte para ser concluída com sucesso. Sinto-me como um homem que, tendo encalhado em muitos recifes e tendo escapado com grande dificuldade de um naufrágio em um pequeno estreito, tem ainda a temeridade de retornar ao mar no mesmo navio avariado e castigado pelo mau tempo, e ainda carrega a sua ambição tão longe a ponto de percorrer o globo nessas circunstâncias desvantajosas. Minha memória dos erros e da perplexidade do passado tornaram-me desconfiado do futuro. A condição debilitada, a fraqueza e a desordem das faculdades que devo utilizar em minhas investigações aumentam a minha apreensão. E a possibilidade de emendar e corrigir tais faculdades leva-me quase ao desespero, e quase a preferir perecer nas pedras em que me encontro no momento, do que aventurar-me na imensidão do alto mar. Esta súbita visão de perigo em enche de melancolia; e como ocorre com essa paixão, dentre todas as demais, perder-se em si mesma, eu não posso deixar de alimentar o meu desespero com todas essas reflexões desanimadoras que o presente assunto me oferece com tamanha abundância. Sinto-me assustado e confuso com esta situação desesperante em que me encontro em minha filosofia, e imagino a mim mesmo como um monstro estranho e grosseiro que, não sendo capaz de se misturar e se unir em sociedade, foi expulso do convívio humano, totalmente abandonado e deixado inconsolável. De bom grado misturar-me-ia à multidão em busca de proteção e cordialidade, mas sendo possuidor de tal deformidade, não posso ousar misturar-me. Convido a outros que se unam a mim com o objetivo de constituir uma sociedade à parte, mas ninguém me atende. Todos se opõem à distância e temem a tormenta que me golpeia de todos os lados. Expus-me à inimizade de todos os metafísicos, lógicos, matemáticos e mesmo teólogos; devo alegrar-me com os insultos que tenho de suportar? Declarei a minha desaprovação de seus sistemas; devo surpreender-me por eles expressarem seu ódio de minha pessoa? Quando contemplo todas as disputas, contradições, calúnia e difamação; quando dirijo a minha atenção para o meu interior, não encontro nada senão dúvida e ignorância. Todo o mundo me opõe e me contradiz; tal é a debilidade que experimento que todas as minhas opiniões se desfazem e caem por si mesmas quando não sustentadas pela aprovação dos outros. Cada passo que dou com vacilação e cada nova reflexão me faz temer um erro ou um absurdo em meu raciocínio. Ora, com que confiança posso aventurar-me a um empreendimento tão audaz quando, além das infinitas debilidades que me são peculiares, descubro tantas outras que são comuns à natureza humana? Posso estar seguro de que ao abandonar todas as opiniões estabelecidas chegarei à verdade? E por qual critério devo distingui-la se a fortuna guia por fim os meus passos? Após o mais preciso e exato dos meus raciocínios, não posso dar uma razão do porquê deva eu assentir a ele e não experimento mais do que uma forte inclinação a considerar os objetos fortemente do ponto de vista a partir do qual se me apresentam.


(...)


Nada é mais perigoso à razão do que os vôos da imaginação... Mas, por um lado, se a consideração dessas instâncias me leva a rejeitar todas as sugestões triviais da imaginação e a aderir ao entendimento...; mesma essa rejeição, se executada com sucesso, seria perigosa... . ... o entendimento, quando atua sozinho, subverte-se a si mesmo inteiramente, e não deixa o menor grau de evidência em qualquer proposição, seja em filosofia, seja na vida comum... Será que temos, então, de estabelecer como máxima geral que nenhum raciocínio elaborado ou refinado deva ser aceito?... Por tal meio eliminamos totalmente toda ciência e toda filosofia... Se aceitamos tal princípio..., chegamos aos maiores absurdos. Se o recusamos em favor desses raciocínios, subvertemos inteiramente o entendimento humano. Reflexões muito refinadas têm pouco ou nenhuma influência em nós; e no entanto não podemos estabelecer como regra que elas não tenham qualquer influência...


Ocorre que, felizmente, uma vez que a razão é incapaz de dissipar essas nuvens, a própria natureza basta para tal propósito, e me cura dessa melancolia e desse delírio filosófico, seja relaxando essa inclinação da mente, seja por alguma... impressão vivaz dos sentidos, que ofusca todas as quimeras. Eu janto, jogo gamão, converso e me divirto com meus amigos; e quando, após três ou quatro horas de divertimento, eu retorno a essas especulações, elas parecem tão frias... e ridículas...


Assim, vejo-me absoluta e necessariamente inclinado a viver, e a conversar, e a agir como as outras pessoas nos seus afazeres diários... Estou pronto a lançar todos os meus livros e papéis ao fogo, e a jamais renunciar aos prazeres da vida por causa do raciocínio e da filosofia.


(...)


Quando então me canso de tanto divertimento e companhia, e tendo sido levado à meditar em meu quarto, ou em um passeio solitário ao longo do rio, sinto a minha mente completamente absorta em si mesma, e me vejo naturalmente inclinado a conduzir a minha visão a todos esses assuntos sobre os quais encontrei tanta disputa no curso da minha leitura e conversação. Não posso deixar de ter curiosidade acerca dos princípios morais do bem e do mal, a natureza e o fundamento dos governos, e a causa dessas tantas paixões e inclinações que atuam em mim e me governam. Me sinto desconfortável em pensar que aprovo um objeto e desaprovo outro; que chamo algo de belo e algo de feio; que decido a respeito da verdade e da falsidade... sem saber com base em quais princípios eu procedo... Sinto uma ambição crescente em mim de contribuir para a instrução da humanidade... Esses sentimentos surgem naturalmente em minha presente disposição... Sinto que deva ser um perdedor no que concerne ao prazer; e essa é a origem da minha filosofia.


(excertos do Treatise of Human Nature de David Hume, Conclusão do Livro I)


quinta-feira, novembro 05, 2009

HISTORIA DA FILOSOFIA ANTIGA



A Civilização Grega

Há mais ou menos 1.500 anos a.C. desenvolveu-se na Península Balcânica a Civilização Grega a mais importante da Antigüidade e também a mais influente de toda a história. Arquitetos Gregos criaram estilos que são copiados até hoje. Seus pensadores fizeram indagações sobre a natureza que continuam a serem discutidas nos dias atuais. O teatro também nasceu na Grécia, onde as primeiras peças eram representadas em anfiteatros abertos. Foi em Atenas, uma Cidade-Estado*, que se fundou a primeira democracia, isto é, o governo do povo - embora houvessem escravos, que por não serem cidadãos não votavam -. A sociedade grega atravessou diversas fases, atingindo seu apogeu entre os anos 600 e 300 a.C., com grande florescimento das artes e da cultura. A Grécia foi unificada por Felipe da Macedônia. Seu filho, Alexandre O Grande, disseminou a cultura grega pelo Oriente Médio e pelo norte da África.


Descrição do país


Na região sudoeste da Europa, formando a extremidade meridional da península balcânica, situa-se a Grécia, país de tanta fama e grandeza nas páginas das grandes civilizações.


O país compreende duas partes: a continental e a insular. Aquela (conforme se pode observar em qualquer mapa) caracteriza-se pelo número de regiões: a Tessália e o Épiro ao norte; a Etólia próxima a Delfos, a Beócia, junto a Tebas e a Ática triangular em que se situa Atenas. Mais para o sul, no Peloponeso separado do restante do país pelo istmo de Corinto, temos a Élida, a Arcádia, a Lacônia e Messênia. A parte insular compreende centenas de ilhas constantemente citadas na história, na literatura e nas artes (Creta, Milo, Paros, Samos, Lesbos são algumas das que tem maior celebridade).


O clima da Grécia assemelha-se ao dos países mediterrâneos: quente e seco no verão, frio e úmido no inverno.


O nome de Grécia foi desconhecidos por seus antigos habitantes, Estes se chamavam Helenos e ao país denominavam de Hélade. Foram os romanos, os criadores daquele termo derivado de Graea, povoação do Épiro, de onde vieram os primeiros colonos helenos da Itália.


O papel do mar


O mar desempenhou para os gregos uma função de alta importância; dilatou-lhes excepcionalmente o horizonte. É assim que, navegando de ilha em ilha (era o tempo em que a navegação não ousava perder de vista o horizonte terrestre). os gregos chegaram: a) pelo mar Egeu ao litoral da Ásia Menor, onde fundaram colônias e dominaram localidades; b) pelo mar Jônico à Itália Meridional e à Sicília, onde fundaram a Magna Grécia.


O mundo grego compunha-se, portanto, graças ao mar, de três partes: a Grécia propriamente dita, a Grécia da Ásia Menor ( o outro lado do mar Egeu, diziam os gregos) e a Magna Grécia.


A formação do povo


Os próprios gregos ignoravam a sua origem e procuravam explica-la através de lendas maravilhosas (os mitos). Na verdade, porém, a Grécia foi habitada, em tempos, muito distantes, por povos não gregos, de origem mediterrânea a que se dá o nome de pelasgos.


Mais tarde, o país foi invadido por povos arianos - Aqueus e dórios principalmente - os quais acabaram por se mesclar e deram origem aos helenos.


A religião dos gregos


Os gregos tal como os egípcios eram politeístas, isto é, adoravam muitos deuses. Os mais poderoso era Zeus, deus do céu e do fogo. Hera, sua esposa protegia a vida familiar. Seguiam-se entre outros, Apolo, o deus do sol, Ártemis, a deusa da Lua, Hermes, deus dos oradores e comerciantes, Ares, deus da guerra e Atena deusa da sabedoria.


O culto e os heróis


O culto aos deuses comportava entre os gregos o sacrifício de animais e festas. Algumas festas eram particulares a determinadas cidades, enquanto outras eram comuns a toda Grécia. Entre as primeiras, cita-se a procissão de Palas-Atena, realizada em Atenas em honra da deusas que protegia a cidade. Das segundas, cita-se a de Olímpia, onde compareciam gregos de todos os lugares para participar ou assistir os Jogos Olímpicos.


Ademais, os gregos reverenciavam os heróis (homens que haviam realizado feitos extraordinários e que uma vez mortos se aviam transformados em deuses). O mais famoso dos heróis gregos foi Hércules.


Os monumentos Gregos


Os mais belos monumentos arquitetônicos da Grécia antiga constituíam-se de templos dedicados a vários deuses. Cada cidade-estado tinha orgulho de seus templos. Nenhuma, porém, possuiu templos tão grandiosos e tão belos como Atenas. Os templos atenienses agrupavam-se num planalto rochoso, isto é, na acrópole (parte alta da cidade).


O principal era o Partenon, templo dedicado a Palas-Atena. O arquiteto que construiu este templo foi Fídias que era igualmente um grande escultor. Suas obras principais de estatuária consistiram na estátua de Palas-Atena, junto ao Partenon, e na de Zeus, erguida na cidade de Olímpia.


As letras Gregas


Os maiores escritores da Grécia viveram entre o V e o IV séculos. Entre outros citam-se Ésquilo, Sófocles e Euripedes, autores teatrais que se dedicaram a celebração dos episódios mais gloriosos da história do país. Aristófanes escritor de comédias e Demostenes, também famoso orador se integram a citação resumida que aqui faço.


A tais nomes cumpre ainda juntar os de Píndaro (famoso poeta), Heródoto e Túcides (grandes historiadores) e Tales de Mileto, Pitágoras, Sócrates e Platão (grandes pensadores).


Filosofia Grega


A filosofia grega dividi-se em antes e depois de Sócrates. Foram pré-socráticos Tales de Mileto (fim do século VII - início do VI a.C.); Pitágoras (582 - 497 a.C.); Demócrito (460 - 370 a.C.); Heráclito (535 - 475 a.C.); e Parmênides (540 - ? a.C.). No tempo de Sócrates predominava a escola dos sofista que se serviam de reflexão para atingir fins imediatos, ainda que por falso argumentos. O maior dos sofista foi Pitágoras.


Sócrates (470 - 399 a.C.) - Fundou a Filosofia Humanista. Criou a maiêutica ("parto das idéias"), método de reflexão que consiste em multiplicar as perguntas para obter, a partir da indução de casos particulares, um conceito geral do objetivo. Para Sócrates, a virtude era uma ciência que se podia aprender. Uma voz interior, daimon, indicaria o caminho do bem. Irônico, hábil em confundir o interlocutor, cercado de discípulos extravagantes, como Alcebíades, atraiu muitos inimigos. Acusado de renegar os deuses e corromper a juventude, Sócrates foi condenado a beber cicuta (tipo um veneno), o que fez com bravura e serenidade.


Platão (427 - 347 a.C.) - Principal discípulo de Sócrates, fundou a Academia de Atenas. Segundo sua teoria, baseadas nas idéias (formas essenciais), o mundo real transcende o mundo das aparências, o qual nada mais é do que uma derivação das idéias matrizes. Em suas obras políticas, destaca como virtudes essenciais a bravura, a serenidade e a justiça. Obras importantes: Apologia de Sócrates**, Críton, O Banquete, Fédon, Fedro e A República.


Aristóteles (384 - 322 a. C.) - Considerado por muitos como o maior filósofo de todos os tempos. Abarcou todos os conhecimentos de seu tempo - Lógica, Física, Metafísica, Moral, Política, Retórica e Poética. Sua obra foi editada pela primeira vez no séc. I a.C. por Andrônico de Rodes. Partindo de Sócrates e Platão, Aristóteles sistematizou os princípios da Lógica, formando uma ciência que ele chamou de Analítica. Sua Metafísica estuda o "ser enquanto ser"e investiga os "primeiros princípios" e as "causas primeiras do ser". Em sua Teologia, Aristóteles procura demonstrar racionalmente a existência de Deus, o "primeiro motor móvel", o "não-vir-a-ser", o "ato puro".


Geovani Realli / D. Antisseri


Marcilio Reginaldo







quarta-feira, novembro 04, 2009

OS FILÓSOFOS E SUAS TEORIAS - PERÍODO CONTEMPORANEO



FILOSOFIA CONTEMPORANEA

Teorias de Filósofos do Século XX

Gottlob Frege (1848 – 1925). Matemático alemão que revolucionou a lógica formal e abriu caminho para a filosofia analítica.


Henri Bergson (1859 1914). Evolucionista francês que defendia a existência de um “impulso vital” que leva o mundo adiante, sem início ou término definido. Acreditava que o futuro era determinado pela escolha de alternativas feitas no presente.


John Dewey (1859 – 1952). Pragmatista, norte-americano, que desenvolveu um sistema conhecido como “instrumentalismo”. Considerava o homem em continuidade com a natureza, mas distinto dela.


Edmund Husserl (1859 – 1938), alemão. Fundador da “fenomenologia”. Procurava fundamentar o conhecimento na experiência pura sem pressupostos.


*Alfred North Whitehead (1861 – 1947). Evolucionista e matemático britânico, que defendia que a realidade não deveria ser interpretada em termos “atomísticos”, mas em termos de processo. Afirmava que “Deus” está intimamente presente no universo – visão chamada de “Panteísmo”. Ex.: Todos os Bàbálóòrìsàs e Iyálóòrìsàs, bem como, adeptos das Religiões de Matriz Africanas são “Panteístas”.


Benedetto Croce (1866 1952), italiano. Destacou-se por seu papel na retomada do realismo histórico.


Bertrand Russell (1872 – 1970). Agnóstico britânico, que adotou vários sistemas filosóficos antes de apresentar o “positivismo lógico” – visão segundo a qual o conhecimento científico é o único conhecimento fatual.


George Edward Moore (1873 – 1958). Filósofo moral britânico, que desenvolveu a doutrina do “utilitarismo ideal”.


Martin Heidegger (1889 – 1973). Discípulo alemão de Husserl, que deu continuidade ao desenvolvimento da “fenomenologia” e muito influenciou os existencialistas ateístas.


Gabriel Marcel (1889 – 1973), francês. Inicialmente aluno de idealistas de língua inglesa, Marcel preocupava-se com o problema cartesiano da relação entre mente e matéria.


*Ludwig Wittgenstein (1889 –1973), austríaco. O mais influente filósofo do séc. XX; Ludwig desenvolveu dois sistemas filosóficos altamente originais, porém incompatíveis, dominados pela preocupação com as relações entre o mundo e a linguagem.


Herbert Marcuse (1898 – 1979). Filósofo teuto-americano que tentou combinar existencialismo e psicanálise com um marxismo libertário que era crítico do comunismo.


*Gilbert Ryle (1900 – 1976), britânico. Estudou a natureza da filosofia e o conceito da mente, a natureza do significado e a filosofia da lógica.


Sir Karl Popper (1902 – 1994). Racionalista crítico britânico; defendia que a verdade das leis científicas nunca será provada e que o máximo que se pode supor é que elas sobrevivam às tentativas de refutá-las.


Theodor Adorno (1903 – 1969). Filósofo alemão que combinava marxismo com estética vanguardista.


Jean-Paul Sartre (1905 – 1980). Influente filósofo francês que desenvolveu o pensamento existencialista de Heidegger. Defensor ateísta de uma existência humana irracional e subjetiva, seu lema era “a existência é anterior à essência”.


Maurice Merleau-Ponty (1907 – 1961). Fenomenólogo francês que insistia no papel do corpo humano em nossa experiência do mundo.


Simone de Beauvoir (1908 1986). Existencialista francesa que fundou a filosofia feminista moderna.


Claude Lévi-Strauss (nasc.; em 1908). Antropólogo francês e defensor do estruturalismo, seus trabalhos investigam a relação entre a cultura (um atributo da humanidade) e natureza com base na característica distinta do homem – a capacidade de se comunicar numa língua.


Willard van Orman Quine (nasc.; em 1908). Filósofo norte-americano que combinou pragmatismo com positivismo lógico e destruiu vários dogmas da fase inicial da filosofia analítica.


Sir Isaiah Berlin (nasc.; em 1909). Filósofo moral e político e historiador britânico que salientou a importância dos valores morais e a necessidade de rejeitar o determinismo se houvesse interesse em preservar os ideais de responsabilidade e liberdade humanas.


Alfred J. Ayer (1910 – 1989), britânico. Foi o principal defensor do positivismo lógico desenvolvido a partir de Russell.


Donald Davidson (nasc.; em 1917), norte-americano. Filósofo da linguagem e seguidor de Quine.


Juergen Habermas (nasc.; em 1929), alemão. Crítico marxista com fortes tendências Kantianas e liberais.


Jacques Derrida (nasc.; em 1930), francês. Fundador do desconstrutivismo, uma evolução da técnica de Heidegger de interpretar filósofos tradicionais com muito cuidado para revelar sua constante incoerência.

Marcilio Reginaldo



terça-feira, novembro 03, 2009

OS FILÓSOFOS E SUAS TEORIAS - PERÍODO MODERNO


As Teorias dos Filósofos
do Século XIX


George Wihelm Friedrich Hegel (1770 – 1831), alemão. Seu sistema metafísico era racionalista, historicista e absolutista, baseado na doutrina de que “o pensamento e o ser são o mesmo”, e que a natureza é a manifestação de um “Espírito Absoluto”.


Arthur Schopenhauer (1788 –1860). Idealista alemão que atribuiu à vontade um lugar de destaque em sua metafísica. Principal expoente do pessimismo, e rejeitava o idealismo absoluto e pregava que a única atitude sustentável está na completa indiferença a um mundo irracional. Afirmava que o ideal maior era a negação do querer-viver.


Auguste Comte (1798 - 1857), francês, fundador do positivismo, um sistema que negava a metafísica transcendente e afirmava que a “Divindade e o homem eram um só”; que o altruísmo é o dever maior do homem e que os princípios científicos explicam todos os fenômenos.


Ludwig Feuerbach (1804 –1872), alemão. Argumentava que a religião era uma projeção da natureza humana. Influenciou Marx.


John Stuart Mill (1806 –73). Expoente inglês do utilitarismo; diferenciava-se de Bentham ao reconhecer diferenças na qualidade e quantidade de prazer. Sobre a “Liberdade” é seu mais famoso trabalho (1859).


Soren Kierkgaard (1813 – 55). Existencialista religioso dinamarquês cujo pensamento é a base do existencialismo moderno (ateísta). Pregava que a realidade residia apenas na existência e que o indivíduo possuía um valor singular.


Karl Marx (1818 – 83). Pensador revolucionário alemão que, juntamente com “Friedrich Engels”, fundou o comunismo moderno. Marx também foi importante seguidor de “Hegel”.


Herbert Spencer (1820 - 1903). Evolucionista inglês cuja sua “Filosofia Sintética” interpretava todos os fenômenos de acordo com o princípio do progresso evolucionário. (O ser humano teria que, evoluir e respeitar as leis, dentro de uma sociedade e, de acordo com a necessidade exigida pela maior parte da sociedade).


*Charles S. Peirce (1839 – 1914). Físico e matemático, norte-americano, fundador da escola filosófica chamada de “Pragmatismo”. Considerava a “lógica” a base da filosofia e entendia que o critério de uma crença é dado pelas suas conseqüências práticas. Ex.: Na Religião (Africanista) de Matriz Africana, entre o “Fundamento e os Rituais” praticados por seus adeptos, têm que haver a “lógica” entre os mesmos, (Fundamento (base) da Religião de Matriz Africana e seus diversos Rituais, caso não exista a “lógica” entre os mesmos, então, não existe Religião de Matriz Africana). A “lógica” é a base, o fundamento desta Religião, sendo o seu maior segredo. Por isso, que todos os “Rituais” praticados por seus adeptos são baseados no “Fundamento” e com a “lógica” entre os mesmos. Charles, também estudou e baseou-se na “teoria da lógica”, bem como, muitos historiadores, antropólogos e filósofos (na – lógica -da Religião Primitiva Africana).


William James (1842 1910). Psicólogo e Pragmatista, norte-americano. Ele afirmava que a realidade está sempre no “fazer-se” e que cada um deveria escolher a filosofia mais adequada a si próprio.


Friedrich Wilhelm Nietzsche (1844 – 1900). Alemão. Ele afirmava que a “vontade de poder” é básica na vida e, que o espontâneo é preferível ao metódico. Atacou o “Cristianismo”, principalmente, por ser um sistema que apoiava os fracos, enquanto o valor maior pertence ao “além-do-homem”.  Nietzsche – Foi um extraordinário poeta e romancista e um dos mais influentes filósofos modernos. Por motivos de saúde, renunciou a um cargo em uma Universidade na Suíça em 1879 e passou a década seguinte escrevendo suas principais obras, no ritmo de um livro por ano. Sua existência criativa terminou num colapso mental em 1889. Após sua morte, em 1900, sua irmã Elizabeth Foerster deliberadamente desvirtuou seus pensamentos com objetivos nacionalistas e anti-semitas.


Marcilio Reginaldo